domingo, 21 de fevereiro de 2010

Avaliação na educação : o portfólio


O portfólio na educação possibilita identificar quais os reais objetivos da aprendizagem, quais foram cumpridos e quais não foram alcançados. Ele se apresenta em três modelos: particular, aprendizagem e demonstrativo.

O particular é aquele que guarda informações pessoais do educando, incluindo dados sigilosos, e fica reservado na secretaria da instituição. O de aprendizagem (processo-fólio) é aquele que apresenta toda a coleção de atividades do educando, sua trajetória bimestral, o resultado da construção de conhecimento, realizado e analisado em três vias a cada bimestre. Já o demonstrativo se refere às atividades catalogadas, de grande relevância para o processo de transição do educando, e encaminhadas para o educador que vai trabalhar com o educando no ano seguinte.

Este portfólio é construído (armazenado) em uma pasta, com plástico transparente, cujo objetivo é anexar as atividades diversas, como recortes, colagens e fotos, desenvolvidas através da linguagem oral, escrita e pictórico. Todas comprometidas com o tema que está sendo trabalhado no bimestre.

As autoras Elizabeth Shores e Cathy Grase apresentam um processo de montagem na construção do portfólio em dez passos. São eles:


Estabelecer uma política para o portfólio.

Coletar amostras de trabalhos.

Tirar fotografias.

Conduzir consultas aos diários de aprendizagem.

Fazer entrevistas.

Efetuar registros sistemáticos.

Realizar registros de casos.

Preparar relatórios narrativos.

Conduzir reuniões de análise de portfólio em três vias.

Usar portfólios em situações de transição.

A proposta de apresentar o portfólio em três vias, ou seja, o encontro entre o educador, o educando e a família em reunião de análise e reflexão do portfólio, é um momento pedagógico que caracteriza o passo de maior relevância para o desenvolvimento cognitivo do educando. A apresentação dessa forma tem um objetivo maior: a apreciação da produção do educando, com atividades construídas e reconstruídas, demonstrando o crescimento pedagógico alcançado por ele de forma gradativa, dando início ao compromisso de autonomia do educando.

O educador também terá a oportunidade de refletir sobre sua prática pedagógica, fazendo uma autoavaliação sobre em que momento deverá retomar as atividades de insucesso que surgirem no seu grupo de trabalho.

A observação é fundamental na avaliação da educação, ou seja, em qualquer processo avaliativo. A observação individual ou do grupo vai possibilitar ao educador um amplo conhecimento do educando, o que, atrelado à reflexão e análise deste, trará uma grande riqueza de informações que vão diagnosticar as questões de aprendizagem que poderão interferir de ordem positiva ou negativa, permitindo uma intervenção qualitativa no processo de ensino-aprendizagem.

Registrar todas as ocorrências, resgatar o que foi perdido, repensar o que não foi compreendido pelo educando e encontrar estratégias de aprendizagem são questões que, só por meio do registro diário, possibilitarão ao educador refazer sua prática pedagógica, definindo o perfil do educando de acordo com o registro de suas habilidades nas atividades solicitadas. O registro é a fonte, é o seu arquivo, é a base de um processo que permitirá a escrita de um relatório final, fiel à produção do portfólio.

A reflexão e a interpretação das abordagens em sala de aula, e a percepção analítica, irão identificar como o educando está elaborando e construindo o seu conhecimento. O portfólio ainda é um recurso de maior fidelidade avaliativa. O educador que vivencia a avaliação enquanto processo, com certeza, fará desse recurso mais um aprendizado.

Sendo o construtivismo coadjuvante neste artigo, cabe acrescentar que o conhecimento se dá a partir de uma construção, é na ação-reflexão que desenvolvemos o processo de ensino-aprendizagem, com metodologias favoráveis ao contexto do cotidiano escolar, gestando competência e exacerbando o desejo de criar e produzir nas atividades escolares.

Texto de Rosa Costa, educadora, pedagoga, mestranda e especialista em Recursos Humanos, enviado ao Jornal Virtual. E-mail: rosacostaf@ig.com.br.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Educação e Sensibilidade ( Isadora Rupp/ Profissão Mestre)


Bloemfontein é uma cidade da África do Sul que fica na metade do caminho entre Cape Town, capital legislativa, e Joanesburgo, a maior cidade do país. Seu nome significa “fonte de flor” e ela é conhecida, justamente, pelas belezas naturais. No entanto, até 1994, acontecia algo impensável para os brasileiros: havia apenas escolas distintas para brancos e negros e um sistema diferente para cada uma delas. O modelo, claro, não segregou apenas raça e costumes: os bons colégios melhoraram muito e os ruins ficaram cada vez piores.

Após aquele ano, as instituições de ensino foram se diversificando, tanto na composição dos alunos quanto no modelo de ensino, e foi no final dessa transição que a professora Sarietjie Musgrave (lê-se “Sariki”) começou a lecionar. Além dos problemas para adaptar o currículo, a educadora se deparou com tristes realidades que teve de enfrentar. “Lido com muita diversidade no perfil socioeconômico. Todos os dias, o meu desafio é entender: quem ainda está com fome? Qual a família que está afetada pela AIDS?”, conta.

O cotidiano também é um fator que pesa: Sarietjie o considera demasiadamente cheio. “Começo às 7h30 da manhã e dou aulas direto até às 14h45, com apenas 30 minutos de intervalo. Depois disso, temos de dar esporte e atividades culturais para os alunos. E aí, quando chego em casa, tenho os filhos, a família e as aulas do dia seguinte para preparar.”

Mas essa rotina não impediu que a professora desenvolvesse projetos extras e melhorasse a vida escolar e a comunidade, com iniciativas sempre atreladas à tecnologia. Em 1997, em uma das escolas em que trabalhava, conta a professora, nem mesmo os professores de computação sabiam ligar o computador. Ensiná-los e também aos alunos seria um trabalho complexo e exigiria muito tempo dispensado. Então, ela criou a seguinte estratégia: deu aulas para os alunos sobre o assunto e cada um deles deveria “adotar” um professor. “Outras escolas também fizeram isso. Os ‘alunos-professores’ entrevistavam os docentes para saber quais competências queriam aprender e eles mesmos desenvolveram o material didático”, explica Sarietjie.

Envolver os estudantes com a comunidade é um traço forte dos projetos da professora. Um dos trabalhos que ela desenvolveu, por exemplo, fez com que suas estudantes pesquisassem sobre deficiências que afetavam os alunos, buscando atender a demanda de pais que apresentavam muitas dúvidas ao lidar com filhos que tinham algum problema físico ou mental. “Formei um grupo de pesquisa com elas que procuraram quais eram os problemas das pessoas com necessidades especiais na comunidade. Fizemos o mapeamento e espalhamos vários cartazes de orientação sobre o assunto”, salienta.

Três delas, segundo a professora, arrecadaram fundos para um menino fazer implante coclear (de um dispositivo eletrônico para audição). “E ele voltou para a escola normal. Foi gratificante, pois uma delas tinha a mãe surda e todos sentiram que fizeram a diferença para aquela criança. Deu tão certo que elas até publicaram o trabalho em um jornal de medicina.”

Outras iniciativas são simples, como ensinar pessoas desempregadas a elaborarem um currículo no computador e a levar tecnologia para os idosos. “Uma turma visitava uma casa de repouso e tinha uma senhora, da Grécia, que queria falar com a família e não conseguia. Eles ajudaram-na a usar o e-mail e ela passou a manter um diálogo constante, mudou a vida daquela mulher. Muitas vezes a inovação não está em algo mirabolante, mas simplesmente em uma solução”, enfatiza.

Em meio a realidades sociais tão distintas, a educadora resolveu reunir adolescentes de 16 anos para aprenderem a fazer pesquisa com base metodológica junto com profissionais da Universidade da Inglaterra. “Os professores ensinam o método e eles pesquisam as necessidades das crianças na comunidade e passam os dados para que os docentes tenham noção daquela realidade”, explica. Outra medida é realizar um intercâmbio entre escolas de condições diferentes. “Para muitos, é a primeira vez que uma criança negra se senta ao lado de uma branca”. Apesar das diferenças sociais, elas entendem que os anseios e necessidades são os mesmos. “Eles acabam se tornando muito bons amigos”, salienta.

Para Sarietjie, o bom professor deve estar atento para observar o que acontece com o aluno. Na cidade onde ela vive, por exemplo, muitos adolescentes são os chamados “órfãos da AIDS”, que se desdobram para continuar a escola e cuidar dos irmãos mais novos. “E muitos professores não têm nem noção que isso acontece.”

Ela cita um exemplo pessoal: um aluno de seis anos dormia durante toda a aula e, embora ela o acordasse, logo o menino cochilava novamente. Então, a professora descobriu que a casa dele havia sido inundada há pouco tempo. “De tanto medo e assustado, ele dormia em uma árvore. Por isso que tão importante quanto lecionar uma matéria e aplicar uma prova, é essencial garantir que o aluno tenha um ambiente saudável. Só assim a aprendizagem é garantida”, frisa.

Você sabia?

Na África do Sul, segundo a professora Sarietjie Musgrave, as escolas não pertencem ao Estado, mas aos pais. Toda instituição de ensino tem um conselho diretivo que administra as questões da escola. Ele é formado por um número, definido por cada instituição, de professores, pais e alunos, que decide quem será o diretor, os docentes, o idioma adotado para ensino e a religião