quarta-feira, 1 de abril de 2009

Como lidar com alunos problemáticos?


É comum ouvir professores em reuniões pedagógicas comentarem a respeito dos alunos: “Aluno é a imagem do cão!”; “Escola boa é aquela sem aluno!”. Citado dessa forma, soa bastante ofensivo e relembra situações de guerra.

No cotidiano escolar, sabe-se que as relações interpessoais não são sempre positivas. A violência crescente na sociedade ultrapassa os muros escola adentro. Além disso, o contexto social, político e econômico brasileiros em que a escola está inserida, contribuem para o estabelecimento de relações interpessoais desfavoráveis e deletérias.

Nesse contexto, a sala de aula assemelha-se a uma arena de luta, cujos participantes, cada qual com seus problemas, disputam poder e lutam pela sobrevivência.

Para relacionar-se com alunos “problemas”, especificamente com problemas de comportamento e relacionamento, o professor pode agir de maneira ética, respeitosa, satisfatória, positiva e construtiva para o crescimento do aluno sem perder a autoridade, o afeto, sem ser permissivo ou, sem ser opressor.

O aluno identificado como “problema” por muitos professores é aquele que se comporta em aula de maneira a:

1. retrucar o que o professor diz;
2. indagar ou responder as perguntas do professor repetidas vezes;
3. objetar às observações e às avaliações contínuas do professor;
4. contestar as normas da escola;
5. esquivar-se de realizar atividades e tarefas propostas pelo professor;
6. rechaçar comentários dos colegas;
7. desrespeitar os valores do grupo, do professor, da escola e, enfim, da sociedade.

Para resolver positivamente as situações de conflito com os alunos, é útil ao professor:

1. Receber a queixa, dúvida, comentário, opinião, etc. Acolher o sentimento do aluno quando os expressa.

2.Observar a comunicação verbal e não-verbal do aluno. Ouvir atentamente o que ele diz e perceber como o diz. Observar o tom da voz, a respiração, a gesticulação, a expressão facial, etc.

3. Manter a segurança em si mesmo e o domínio de ações e palavras.

4. Dissociar na mensagem a fala ou o comportamento do sentimento e da intenção positiva subjacentes. O comportamento pode ser indesejado pela escola, pelo professor e pela sociedade, mas a intenção desse comportamento pode ser positiva, bem como o sentimento pode ser legítimo. Por exemplo:

a. quando o aluno se defende retrucando, o sentimento pode ser raiva, ou insatisfação, ou incompreensão; o comportamento pode ser a desobediência, a agressividade, a ironia, o desrespeito, a indisciplina;

b. quando o aluno não reconhece um erro cometido e se justifica agredindo verbalmente, a intenção positiva (para o aluno) é de autodefesa; o comportamento é de combatividade;

c. quando não realiza tarefas com argumentos de uma lista de problemas pessoais; o sentimento pode ser de frustração, de desmotivação, de fracasso, de carência afetiva, necessidade de ajuda; o comportamento é a indisciplina, ou preguiça, etc.

d. ao contestar o professor em aula com a defesa de outro ponto de vista, ou de outras teorias, a ação positiva desse comportamento pode ser ter a coragem e a capacidade de expressar-se verbalmente e promover o enriquecimento da aprendizagem, ampliando o conjunto de informações e o conhecimento da turma e do professor; o comportamento que deve ser corrigido é a forma de realizar a contestação e o momento adequado. Pode também aproveitar a oportunidade para desenvolver nos alunos a atitude de ter flexibilidade nas opiniões.

1. Começar argumentando no tom e no ritmo de voz do aluno, às vezes é necessário, mas diminui-los até finalizar demonstrando calma e tolerância.

2. Revelar para o aluno que entende o sentimento e/ou a intenção positiva, entretanto, que não concorda com (ou não aceita) a atitude ou o comportamento indesejado no contexto em que ocorre.

3. Valorizar os aspectos positivos da questão levantada ou da defesa apresentada pelo aluno.

4. Concordar com a intenção positiva do aluno e citar outros comportamentos mais adequados tendo em vista o convívio social civilizável e as relações interpessoais positivas.

5. Responder a pergunta com preceitos da doutrina, ou da área do saber, ou do conhecimento científico/técnico/tecnológico, ou ainda, conforme as regras, normas e valores da escola, socialmente estabelecidos.

Com isso, o professor evita entrar na armadilha emocional do aluno e ainda, contribui para auxiliá-lo no desenvolvimento das Inteligências Interpessoais e Intrapessoais propostas por Gardner, à medida que o aluno reconhece mais seus sentimentos e atitudes, aprende a lidar com eles numa perspectiva encorajadora e que escolhe modificar os comportamentos indesejados.

O sentimento, ou o ato ou efeito de sentir-se (Acepção extraída do Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.), deve ser considerado legítimo e, portanto, deve ser acolhido como manifestação humana autêntica. O comportamento é que pode ser modificado e/ou adaptado, uma vez que todo comportamento é adequado em algum contexto.

É preciso também que, conforme a teoria psicanalítica, o professor reconheça ser o alvo da transferência de amor e ódio dos seus alunos e saiba suportar esses sentimentos tendo em vista o seu papel para o desenvolvimento humano. Portanto, é preciso possuir auto-estima, auto-imagem, autoconceito, ou seja, é preciso Inteligência Intrapessoal. Além disso, o professor precisa de experiência e do contínuo aprimoramento das competências técnica/tecnológica/científica e pedagógica.

Danielle Paiva, é pedagoga licenciada pela Universidade de Brasília. Pós-graduada em Psicopedagogia

3 comentários:

Anônimo disse...

Regiane;

Este texto comunga com tudo que pregamos em educação atualmente, veja um trecha de minha aula de terça-feira passada:


"É comum, muitos professores ao entrarem nas salas de aula irem logo mandando: “Tirem os bonés, desliguem os celulares, joguem os chicletes fora e façam silêncio”, esta é uma atitude de despersonalização do aluno. É muito claro que a personalidade do adolescente atual está calcada nas grifes e no celular, mandar que ele guarde e não mostre estes objetos é uma forma de despersonalização do adolescente, onde o efeito muitas vezes não é a atenção esperada pelo professor, mas sim, a indisciplina. Concordo que a escola também é responsável por trabalhar regras sociais além de valores como a responsabilidade e o “bom-senso” e que num mundo de tantos artefatos é necessário estipular hora e local para cada um deles.

O Professor terá que entender que seu novo papel implica em não ser autoritário, deverá despir-se do detentor do conhecimento e passar a aliar-se ao aluno como navegador na busca do conhecimento."




O Perfil do professor deste milênio ultrapassa em muito a maioria dos que estão em atividade e quem procurar mudar sua postura e atualizar-se estará fora do mercado de trabalho ou se forem efetivos poderão ficar na frente desta raiva produzida pela incompreensão.




Abs
Hamilton

Anônimo disse...

Regiane, muito bacana este texto, farei uso no htp, aproveito para parabenizá-la pelo blog ponte com a fonte, aguardo novidades.
bjs, Sílvia Ambrogi

Anônimo disse...

parabéns